quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Diário


Acorda. Seus olhos ainda semicerrados se dão conta de onde está. Quer desaparecer no sonho, mas a noite é curta demais. Levanta-se. Não quer deitar, não quer estar de pé. Não há mais desejo em seu mundo, nem chama em seus olhos. Respira, porque não tem escolha. E se lembra de que sempre temos escolha, então se respira é porque ainda tem esperança. Que o desejo volte, que o dia passe, que o tempo mate. Escuta os ruídos suaves da manhã que ainda não nasceu. Prefere a madrugada. Nela o seu silêncio é legítimo, o mundo está calado, é autorizado não dizer nada, não tentar ser feliz, só existir. E esse aperto na garganta? Ela engolirá a palavra, mais uma vez, pelo bem de não sei o quê, pelo proveito de algo que não entende. Está só. Sai e caminha pela rua meio escura, meio iluminada. Busca o vazio no qual encontre seu eco. Não faz sol, não é noite, é nuvem, é nublado, é brisa de manhã que não chegou. Nesse breve momento, ela é feliz. Mas o dia nasce, a tarde chega, a noite cai. E mais um dia se passa, entre listas de afazeres e lágrimas de saudades. E amanhã começa tudo de novo, a despeito do único desejo absurdo que sobrevive no desespero das horas seguintes: voltar no tempo.

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2 comentários:

  1. E eu só queria te colocar no colo e dizer que vai passar... que um dia vai passar...

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  2. por favor, pasa esto al español porque es precioso y el google me lo puede estropear...
    me voy ya a la cama, descansa mucho (L)

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