segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Vão

Como uma semente pulsante que se joga
Em um triste e desolado chão de areia fria
Vibra, esperneia, se contorce, já não cabe mais
Dentro de si ou deste mundo
E nada pode, contra a secura que lhe nega
A vida, o alento e a alegria
Nada pode, a não ser sonhar (será delírio?)
Com um dia impossível
Em que espalhará, além de sua casca, seus tenros ramos
Por um momento
Fugaz e belo, com morte certa a porvir.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

What if?

E se todos os dias ruins só servissem para colorir ainda mais os momentos felizes? E se brigas só aumentassem nossa capacidade de dialogar? E se encontros fossem feitos para serem inesquecíveis? E se portas só se fechassem pra deixar a luz do sol se esparramar pelas janelas? E se cada adeus fosse apenas uma outra maneira de dizer “eu te amo”? E se palavras destrutivas se calassem em prol de gestos que unem? E se o belo desse lugar ao sincero e real? E se ser feliz fosse ter uma segunda chance? Como seria a vida? Mais fácil, talvez? Mas ainda assim, cheia de dúvidas, sempre...

sábado, 9 de julho de 2011

Não sei quem sou (ainda bem!)

Observo nas pessoas um desejo enorme de "se encontrar", de saber, frases como "descobrir quem eu realmente sou", corolário do auto-conhecimento. Eu, sempre na contramão, quero me perder. Mais, quero desertar de mim. Abandonar esse ser que mais abomino do que amo. Deixar a batalha, pôr as armas no chão e dar as costas. Não me entrego a causas, tenho sido insensível ao apelo do coletivo (às vezes aos individuais também). Há dentro de mim um ódio e um amor pela humanidade que beira o asco e ao mesmo tempo exerce sobre mim uma atração irredutível, irresistível. Afasto-me das pessoas mas não me canso de olhá-las. Seus jeitos, seus trejeitos, seus olhares e desejos, eu quero ver tudo mas não quero ser vista. E quero ser vista. Não há consenso dentro de mim. Por isso, não quero me "conhecer". Essa força selvagem que me habita me assusta, eu queria uma máscara que funcionasse o tempo todo. Penso agora, eu sou covarde? Mas o que é a coragem? Reconheço a minha miséria, e a reconheço no homem sujo dormindo na praça e na mulher rindo, sentada no café da moda. É a mesma, sob uma outra roupagem, um outro contexto, mas a mesma. Sempre um desejo estranho a nós mesmos. Desejo de contato. Com alguém ou com um delírio.Com um olhar ou com o horizonte. Tocar. Que triste caminhar entre o desespero e a esperança é essa vida, procurando algo que nos toque e algo em que tocar.
Não quero saber quem eu sou. Só não quero mais me sentir. E pairar, pairar...


Na face triste, a dolorosa beleza do humano

Queria saber fazer da minha tristeza arte. Algo útil, que trouxesse beleza, que oferecesse amparo, um colo quente para se encostar. Mas ela é só destruição. Me consome, desfaz os laços, produz o isolamento. Ah, poetas que transformam a lágrima em palavra, em imensidão no peito de quem lê, eu só posso invejá-los e consumí-los. Eu só sei escrever sobre mim e não sobre o mundo, esse mundo estranho e desconcertante, para ele, minhas rimas são vazias. E, às vezes, no meu coração brota uma inclinação para esse campo aberto que me arrebata; e passo minutos inteiros observando um cão que se coça, um casal que anda de mãos dadas mas não se fala, nem se olha, uma mosca grudada na janela do ônibus... Depois passa, me afundo na minha mente e seus problemas mesquinhos. Mas, só, só naqueles minutos absortos que eu sinto: isto é viver, e eu estou viva. Mesmo que por acaso, mesmo que sem querer...

Último bilhete

Essa triste face no espelho? Nunca mais. Esse discurso desencontrado, essas palavras sem sentido? Poupe sua retórica pouco desenvolvida. Desapareça. Lembranças do que já foi, do que poderia ter sido, para o futuro e para a família? Esqueça. Atravesse a rua, finja que não me conhece. Eu vou deixar esse ser de esperanças bobas e fantasias histriônicas pelo fim das desculpas, dos motivos rancorosos. Deixar tudo isso pelos cabelos ao vento e uma mala na mão. Minha porta está fechada e por favor, por tudo que eu já fiz, não me procure mais. Porque não estou à sua procura e de mim não haverá mais notícias. Não mais, não para você. Se me ligar, não deixe recados. Se me enviar cartas, voltarão para o remetente. Deixe-me, de uma vez por todas. Um adeus sem abraços para você, solidão.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Verbo

Espero. É só uma vã esperança, tola, como todas. Desespero. Quem não quer reexperimentar a emoção primeira, o suor nas mãos, arrepio, a luz do desejo de ter o que tanto se idealiza? Minto. Não é verdade, está mais em mim do que em qualquer outro lugar. Desfaço. Cartas, textos, palavras e promessas, como se nunca tivessem existido. Retomo. O dia-a-dia, a conversa formal, o papel na trama do normal. Disfarço. A ilusão que ainda mora em algum canto obscuro da minha mente. Vivo. Pra quê, pra quem? Pra nada. E é o que me move, apesar de tudo, até o dia do último amanhecer.

sábado, 12 de março de 2011

Aos amigos

Se meus amigos lerem esse post, eles vão pensar: "acho que a Amanda está muito emotiva ultimamente. Isso não é bom". E vão rir, lógico. Porque rir é a nossa bandeira, a nossa cola, tudo pode virar motivo para uma boa gargalhada (tudo, tudo mesmo!!!) Mas, mesmo quando algumas coisas não muito engraçadas acontecem comigo, eles também estão lá. Não também, mas principalmente. Não vou citar nomes, eles sabem, cada um deles tem certeza que esse post é para eles. Por me ouvirem com paciência. Por me fazerem rir quando eu só queria submergir em lágrimas. Por me apoiarem mesmo quando eu não estava totalmente certa. Por não terem medo de mim. Por me aceitarem como eu sou (isso realmente não é facil!). Por me lembrarem que eu não estou sozinha, nem no amor e nem na dor. Por serem honestos comigo. Por simplesmente estarem lá, em qualquer lugar que eu precise. Por isso e por muitas outras coisas, eu agradeço. Não acredito que amigos são aqueles que estão juntos sempre, mas que quando estão juntos, fazem parecer que o tempo não passou, que sempre estivemos ligados. Pra vcs, eu deixo uma musiquinha sobre amizade que descobri esses dias, e gostaria de compartilhar. Pra lembrarem que sempre podem contar comigo.

Count on me (Bruno Mars)
If you ever find yourself stuck in the middle of the sea,
I'll sail the world to find you
If you ever find yourself lost in the dark and you can't see,
I'll be the light to guide you
Find out what we're made of

What we are called to help our friends in need
 

You can count on me like one, two, three
I'll be there
And I know when I need it I can count on you like four, three, two
And you'll be there
Cause that's what friends are supposed to do, oh yeah

Wooooh, wooooh
That's what friends are supposed to do, oh yeah
You can count on me cause I can count on you
 If you're tossing and you're turning and you just can't fall asleep
I'll sing a song beside you
And if you ever forget how much you really mean to me
Everyday I will remind you

Oh
Find out what we're made of
When we are called to help our friends in need

Chorus

You'll always have my shoulder when you cry
I'll never let go, never say good-bye



Link download música: http://www.4shared.com/audio/uV-OT43d/bruno_mars-count_on_me.htm



sexta-feira, 4 de março de 2011

Perdas e danos

Quando estamos distraídos e desarmados diante das banalidades da vida, algo nos captura e nos leva a um outro nível de consciência. Aconteceu comigo hoje. Terminando de ler meus e-mails, extratos de banco e outras bobagens, li a seguinte frase ao sair da tela do Free Cell (para quem não conhece, é um dos jogos de cartas que todo computador tem. Jogo com frequência, recomendo!): deseja abandonar este jogo? E me veio um insight. Sim, eu desejo realmente abandonar este e muitos outros jogos. Desejo abandonar o jogo de mentiras, do não-dito, do falso e ilusório que as pessoas tem transformado a vida e as relações. Desejo abandonar as promessas falsas, as soluções rápidas, os remédios milagrosos. Desejo sofrer, porque o sofrimento é real, o paliativo me incomoda, quero e devo amargar todas as minhas perdas e danos, porque aí sim eu realmente abandonarei o jogar para me entregar ao brincar.  Brincar com a vida, com as possibilidades, com a alma séria que ostento nas costas como um peso morto. Quero que ela saia. Quero que aquele ou aquilo que já não me traz prazer, nenhum prazer, saia, se vá e me deixe renascer. Sim, sim, sim, eu desejo realmente abandonar este jogo sórdido e inútil de poder e desamor para ser, qualquer coisa e o que eu quiser. Sem olhar pra trás, a não ser para limpar os pés daquilo que não me serve mais. E livremente, finalmente, viver.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Silêncio

Hoje, não vou escrever nada (além disso que estou escrevendo). Encontro nas palavras de Cecília Meireles o grito que não consigo dar:

Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo 
que está onde as outras coisas nunca estão, 
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo: 
quero solidão. 

Meu caminho é sem marcos nem paisagens. 
E como o conheces? - me perguntarão. 
- Por não ter palavras, por não ter imagens. 
Nenhum inimigo e nenhum irmão. 

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada. 
Viajo sozinha com o meu coração. 
Não ando perdida, mas desencontrada. 
Levo o meu rumo na minha mão. 

A memória voou da minha fronte. 
Voou meu amor, minha imaginação... 
Talvez eu morra antes do horizonte. 
Memória, amor e o resto onde estarão? 

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra. 
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão! 
Estandarte triste de uma estranha guerra...) 
Quero solidão. 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Sobre o amor e o fim

O que une duas pessoas? Essa pergunta tem muitas respostas possíveis, nenhuma absoluta ou definitiva. Talvez eu saiba falar melhor de outra questão, não necessariamente oposta mas relacionada ao seu extremo negativo: quando o amor acaba? Seu fim pode ser insidioso e fatal e suas pistas são quase sempre ignoradas. Entre mil pequenas coisas, tem a ver com o olhar, ou com a falta dele. Você não vê e nem é mais visto pelo outro. Ele muda, adquire novas expressões, adota um novo estilo, e você também. Nada é percebido, e quando o é, torna-se uma acusação de "as coisas não são mais como antes". O "antes" vira assunto frequente, porque no passado vocês supostamente eram perfeitos um para o outro e o "hoje" parece uma imagem especular distorcida do incrível casal que pensava-se ser. Além disso, há pressa, muita pressa. Pressa pra falar, pra desligar o telefone, pra ir embora. As perguntas são feitas mais de uma vez pois as respostas são sempre esquecidas. Dizer eu te amo se torna uma obrigação para evitar brigas ou contornar velhas mágoas. Depois de um tempo, por fim, não faz mais diferença. O que é dito, o que não é. Tanto faz. Um dia você acorda, e percebe que o amor morreu, pois tropeça nele, como um cadáver no meio da sala, se decompondo e clamando pelo seu enterro. Desde quando ele está lá?, você se pergunta.Talvez dias, meses e até anos...
Felizmente, pode ser tudo um engano. Talvez se espere demais disso que chamam de amor. Um dia, ouvi de uma pessoa que considero uma das mais inteligentes e sensatas que conheço, a seguinte sentença: " Nada mais histérico que viver na fantasia de uma relação perfeita". Questionei-me se fazemos isso. Se faço isso. Não gostaria de vestir essa carapuça, ela não combina com minhas sandálias de dedo e nem com minha imagem de bem-resolvida. Não sei. O que penso que sei é que se o amor é uma sorte e o fim é inevitável, no fim de tudo, no meio da noite, só a terrível pergunta ecoa: Valeu a pena?

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Resoluções para um feliz "presente" novo

Não tem jeito. Todo final de ano faço milhares de resoluções, promessas e desejos. Ser mais tolerante, comer menos, cumprir meus prazos, guardar mais dinheiro, e a lista continua. Os dias do novo ano se passam e aquele monte de tarefas se esvai pouco a pouco no cotidiano. Então pra que fazer tantas promessas? Essa é uma daquelas perguntas que trazem dentro dela mesma a resposta: porque temos esperança.
Esperança que aquele momento que ficamos acordados entre o fim de um dia e o começo de outro represente mais que uma passagem de horas: seja um ritual de renovação. De renovar os sonhos, as energias, de encontrar força o suficiente pra transformar aquele plano de vida meio empoeirado pelo tempo em realização.
E quem disse também que tudo o que pedimos no ano novo está destinado ao esquecimento? Percebo que com o passar dos anos peço cada vez menos pra mim e cada vez mais coisas que realmente não posso controlar. Peço principalmente tempo. Tempo com meus amigos, com a minha família, com meu namorado, e tempo de qualidade, de união, de conversa e risada. E pra isso, aqueles clichês de saúde, paz e amor fazem cada vez mais sentido. Sem eles, não há a presença das pessoas que citei, e isso é tudo.
Se essas palavras parecem bregas e romanceadas, não é efeito dos especiais horríveis de fim de ano (Roberto Carlos especial que me perdoe) e sim desse tempo, que passa implacavelmente e ensina que nada é tão duradouro que não se vá como se nem tivesse começado. Por isso, peço não um futuro promissor, mas um presente que eu possa sentir que vale a pena a ser vivido. Se der, menos especiais de fim de ano também.