terça-feira, 7 de agosto de 2012

Quando

Quando eu amar de novo
Nada terá mudado no mundo
Os segundos ainda ditarão o tempo de espera
E pessoas seguirão os fluxos programados
Mas dentro de mim, secretamente, algo se acalmará
Aquele viajante perdido encontrará um lar
E sozinha na multidão, sorrirei ao escutar nossa canção.
Quando eu amar de novo
Aquela outra história morrerá como as folhas de outono
Amareladas entre as páginas de um livro
Com palavras e promessas feitas para sempre
E que não duraram mais este verão.
Quando eu amar de novo
Seremos cúmplices no crime da felicidade
Escondidos das celebrações de alegria aparente
E nenhum grito será dado
O que tiver que ser dito será guardado junto ao seu ouvido.
Sem novas fotos nos porta-retratos
Nenhuma teoria perfeita sobre o amor
Nada e tudo terá tanto sentido
Como eu e você juntos

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Só quem tem cachorro sabe

Eu sempre achei que eu o tinha escolhido. Que engano, foi ele quem me escolheu. Entre montes de filhotes saltitantes lambendo a minha mão, ele estava lá, no fundo daquela caixa de concreto fria de canil. Ele já sabia: eu não resisto a semblantes de tristeza e olhos desconfiados. E apontei: “Eu quero aquele quietinho ali”.
Em casa, ele se revelou: roía tudo o que via pela frente, chinelos, toalhas, pés de mesa...até as mantinhas carinhosamente deixadas para que ele se protegesse do frio, viravam trapos. Ele nunca perdeu esse costume. Mas aprendeu a deixar toalhas e roupas no varal em paz.
Tinha um hábito engraçado para comer. Enquanto comia, ficava rodando em volta da tigela, como se alguém pudesse tomar o que era dele e a gente observava aquela dança: costumes de quem tinha que lutar por um pouco de comida no meio de um monte de cachorros no canil. Com o tempo, ele também perdeu esse costume.
Ele era o dono de tudo, como o seu nome já dizia: Átila, rei dos Hunos e da nossa casa. Daquela caixa de concreto para um quintal enorme era como ter conquistado um reino. Corria de um lado pro outro, rolava na terra, se estirava ao sol, seguia a minha mãe por onde ela fosse e destruía todos os jardins que ela tentava fazer.
Comigo ele tinha tudo. O seu lugar favorito era a porta da cozinha, do lado da geladeira. Ali ele descansava, esperava sua comida (ele sempre era o primeiro a comer), nos observava na sala, tirava seus cochilos, nos fazia companhia e sempre conseguia algum pedaço do que eu estava comendo. Quando queria se esticar mais, vinha para a porta do meu quarto e eu podia ver sua cabecinha encostada no batente da porta, um par de orelhas baixas, e logo ouvia o seu ronco. Meu cachorro amarelo, tirando sua siesta depois do almoço, enquanto eu lia deitada na minha cama.
Quando fiquei seis meses fora, pensava muito nele. Ele já estava velhinho, tossia muito e tinha dificuldades de levantar. Eu tinha medo de voltar e não vê-lo mais. Mas eu voltei, e ele estava lá, mais magro, mais fraco, mas chorando minha volta.
Há pessoas que não entendem a nossa tristeza quando um cachorro morre. “É só um cachorro”, elas dizem. Sou muito tolerante, mas não respeito pessoas que pensam assim e desconfio de quem não ama cachorros e animais em geral. Há algo de antinatural não amar um ser que compartilha tanto com você e te ama incondicionalmente. Meu cachorro era muito melhor que muita gente que conheço e conheci na vida.
Seus últimos dias foram muito sofridos. Fizemos o que podíamos e o que não podíamos. Mas ele se foi e agora não há mais dores pra ele. A gente ficou com todas. Ainda não posso ir onde ele dormia, ou ver suas coisas. Mas lembro dele no meu colo e quando ele me esperava no portão. Meu primeiro namorado assobiava longe da esquina e quando ele corria pro portão, eu sabia que ele estava chegando. O último (e segundo) fazia carinho nele antes de me cumprimentar! Cachorros fazem isso, hipnotizam as pessoas, despertam na gente os melhores sentimentos e nos fazem lembrar o que é amor e companheirismo.
Meu cachorro amarelo, eu sinto sua falta. E se há um paraíso, espero que você esteja nele, correndo como há muito tempo você não fazia, rolando na grama, tomando seu sol matinal e comendo muitos bifes. E quem sabe quando eu te encontre lá, você venha correndo e suje minha roupa com as suas patas. Obrigado por nos dar 15 anos com você.