quinta-feira, 5 de julho de 2012

Só quem tem cachorro sabe

Eu sempre achei que eu o tinha escolhido. Que engano, foi ele quem me escolheu. Entre montes de filhotes saltitantes lambendo a minha mão, ele estava lá, no fundo daquela caixa de concreto fria de canil. Ele já sabia: eu não resisto a semblantes de tristeza e olhos desconfiados. E apontei: “Eu quero aquele quietinho ali”.
Em casa, ele se revelou: roía tudo o que via pela frente, chinelos, toalhas, pés de mesa...até as mantinhas carinhosamente deixadas para que ele se protegesse do frio, viravam trapos. Ele nunca perdeu esse costume. Mas aprendeu a deixar toalhas e roupas no varal em paz.
Tinha um hábito engraçado para comer. Enquanto comia, ficava rodando em volta da tigela, como se alguém pudesse tomar o que era dele e a gente observava aquela dança: costumes de quem tinha que lutar por um pouco de comida no meio de um monte de cachorros no canil. Com o tempo, ele também perdeu esse costume.
Ele era o dono de tudo, como o seu nome já dizia: Átila, rei dos Hunos e da nossa casa. Daquela caixa de concreto para um quintal enorme era como ter conquistado um reino. Corria de um lado pro outro, rolava na terra, se estirava ao sol, seguia a minha mãe por onde ela fosse e destruía todos os jardins que ela tentava fazer.
Comigo ele tinha tudo. O seu lugar favorito era a porta da cozinha, do lado da geladeira. Ali ele descansava, esperava sua comida (ele sempre era o primeiro a comer), nos observava na sala, tirava seus cochilos, nos fazia companhia e sempre conseguia algum pedaço do que eu estava comendo. Quando queria se esticar mais, vinha para a porta do meu quarto e eu podia ver sua cabecinha encostada no batente da porta, um par de orelhas baixas, e logo ouvia o seu ronco. Meu cachorro amarelo, tirando sua siesta depois do almoço, enquanto eu lia deitada na minha cama.
Quando fiquei seis meses fora, pensava muito nele. Ele já estava velhinho, tossia muito e tinha dificuldades de levantar. Eu tinha medo de voltar e não vê-lo mais. Mas eu voltei, e ele estava lá, mais magro, mais fraco, mas chorando minha volta.
Há pessoas que não entendem a nossa tristeza quando um cachorro morre. “É só um cachorro”, elas dizem. Sou muito tolerante, mas não respeito pessoas que pensam assim e desconfio de quem não ama cachorros e animais em geral. Há algo de antinatural não amar um ser que compartilha tanto com você e te ama incondicionalmente. Meu cachorro era muito melhor que muita gente que conheço e conheci na vida.
Seus últimos dias foram muito sofridos. Fizemos o que podíamos e o que não podíamos. Mas ele se foi e agora não há mais dores pra ele. A gente ficou com todas. Ainda não posso ir onde ele dormia, ou ver suas coisas. Mas lembro dele no meu colo e quando ele me esperava no portão. Meu primeiro namorado assobiava longe da esquina e quando ele corria pro portão, eu sabia que ele estava chegando. O último (e segundo) fazia carinho nele antes de me cumprimentar! Cachorros fazem isso, hipnotizam as pessoas, despertam na gente os melhores sentimentos e nos fazem lembrar o que é amor e companheirismo.
Meu cachorro amarelo, eu sinto sua falta. E se há um paraíso, espero que você esteja nele, correndo como há muito tempo você não fazia, rolando na grama, tomando seu sol matinal e comendo muitos bifes. E quem sabe quando eu te encontre lá, você venha correndo e suje minha roupa com as suas patas. Obrigado por nos dar 15 anos com você.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Y que...(E que...)


Quiero un amor que me deje sobria
Que me embriague los sentidos con perfume
Y con pocas nubes de razón
Que me ame mientras friego los platos
Y que sepa cómo y cuándo alimentar mi silencio
Yo amaré sus defectos y en su amor
Me hallaré más próxima de la realidad
Dejaré que me tome la palabra y me lleve el alma
Con risas sin sentido
Quiero un amor que me abrace y me suelte
Que llene las líneas de mis cuadernos
Que me dé muerdos en el cuello
Que esté bien, que sea bueno, que sea tonto
Que sea todo y que sea poco
Y que me regale mi espacio para que yo esté llena sin estar completa
Juro que me entregaré a ti
Y alabaré tu belleza con canciones tontas sobre amores perfectos
Te compraré flores y peluches monos
Ropa interior nueva y provocante
Y algunos libros para no perder la costumbre
Y que me encuentres
Ya que te escondes en los sitios dónde no te busco

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Quero um amor que me deixe sóbria
Que me embriague os sentidos com perfume
E com poucas nuvens de razão
Que me ame enquanto lavo a louça
E que saiba quando e como alimentar meu silêncio
Eu amarei seus defeitos e no seu amor
Me encontrarei mais perto da realidade
Deixarei que me tome a palavra e me leve a alma
Com risadas sem sentido
Quero um amor que me abrace e me solte
Que preencha as linhas dos meus cadernos
Que me morda o pescoço
Que seja bem, que seja bom, que seja bobo
Que seja tudo e seja pouco
E me dê espaço para ser inteira sem ser completa
Juro que me entregarei
E farei jus à sua beleza com hinos tolos sobre amores perfeitos
Comprarei flores e bichos de pelúcia
Lingerie nova e provocante
E alguns livros para não perder o costume
E que me encontre
Já que você se esconde em lugares onde não procuro