segunda-feira, 20 de maio de 2013

(O)caso

Meu amor, você diz:
Não há tempo
O que preciso e o que te digo atravessam campos,
O pranto, a dor, e o desengano.
Não há espaço,
Mas entre eu e você, algo se cola,
Se afoga, eu te afago e você ofega.
Não há futuro,
Não vai dar certo, não chegará a nada
Eu sei o que vai acontecer.
O seu sim, é um não.
E eu respondo:
Eu tenho tempo
Pra te dedicar um verso, uma música
E olhar você e deixar o mundo.
Eu crio pra você o espaço
Perfeita área em que você cabe dentro de mim
E na circunferência do meu abraço.
Eu leio a sorte nos teus olhos e vejo,
O seu futuro é aquilo
que você quiser que seja hoje.
Chegar? Não há destino
Eu faço da sua chegada, festa
E do seu dia, o paraíso
E eu te deixo pra ser
E estar onde quiser
Desde que você me deixe
Viver no seu presente
E eventualmente morrer na sua lembrança.


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sexta-feira, 10 de maio de 2013

Pretérito menos-que-perfeito


Roubaram meus sonhos
Eu durmo em repetição de dias passados
Eram partes de mim
Mesmo que eu não desse valor
Eram minhas, e acabou.
Levaram coisas do meu quarto
Abriram meu armário
E feridas no meu orgulho
E pobre, e pouco, e patético
Ele continuou de pé, cambaleando.
Na próxima, ele jurou, eles vão ver.
E veio a próxima.
Nada mudou
Ouviram minhas preces,
Minhas juras, meus dilemas
E saíram na calada da noite
Sem dizer palavra ou enquanto eu dormia
E em silêncio, eu chorei
E recolhi as lágrimas e uma flor amassada no chão.
Assim eu quis
Ir embora, abrir feridas, roubar sonhos, levar coisas
Não precisava
No meu espelho, o algoz,
Nas minhas cartas anônimas, o assassino
E na face triste, o olhar de quem se perdeu
Porque não tinha motivo pra se encontrar.


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