quarta-feira, 13 de julho de 2011

What if?

E se todos os dias ruins só servissem para colorir ainda mais os momentos felizes? E se brigas só aumentassem nossa capacidade de dialogar? E se encontros fossem feitos para serem inesquecíveis? E se portas só se fechassem pra deixar a luz do sol se esparramar pelas janelas? E se cada adeus fosse apenas uma outra maneira de dizer “eu te amo”? E se palavras destrutivas se calassem em prol de gestos que unem? E se o belo desse lugar ao sincero e real? E se ser feliz fosse ter uma segunda chance? Como seria a vida? Mais fácil, talvez? Mas ainda assim, cheia de dúvidas, sempre...

sábado, 9 de julho de 2011

Não sei quem sou (ainda bem!)

Observo nas pessoas um desejo enorme de "se encontrar", de saber, frases como "descobrir quem eu realmente sou", corolário do auto-conhecimento. Eu, sempre na contramão, quero me perder. Mais, quero desertar de mim. Abandonar esse ser que mais abomino do que amo. Deixar a batalha, pôr as armas no chão e dar as costas. Não me entrego a causas, tenho sido insensível ao apelo do coletivo (às vezes aos individuais também). Há dentro de mim um ódio e um amor pela humanidade que beira o asco e ao mesmo tempo exerce sobre mim uma atração irredutível, irresistível. Afasto-me das pessoas mas não me canso de olhá-las. Seus jeitos, seus trejeitos, seus olhares e desejos, eu quero ver tudo mas não quero ser vista. E quero ser vista. Não há consenso dentro de mim. Por isso, não quero me "conhecer". Essa força selvagem que me habita me assusta, eu queria uma máscara que funcionasse o tempo todo. Penso agora, eu sou covarde? Mas o que é a coragem? Reconheço a minha miséria, e a reconheço no homem sujo dormindo na praça e na mulher rindo, sentada no café da moda. É a mesma, sob uma outra roupagem, um outro contexto, mas a mesma. Sempre um desejo estranho a nós mesmos. Desejo de contato. Com alguém ou com um delírio.Com um olhar ou com o horizonte. Tocar. Que triste caminhar entre o desespero e a esperança é essa vida, procurando algo que nos toque e algo em que tocar.
Não quero saber quem eu sou. Só não quero mais me sentir. E pairar, pairar...


Na face triste, a dolorosa beleza do humano

Queria saber fazer da minha tristeza arte. Algo útil, que trouxesse beleza, que oferecesse amparo, um colo quente para se encostar. Mas ela é só destruição. Me consome, desfaz os laços, produz o isolamento. Ah, poetas que transformam a lágrima em palavra, em imensidão no peito de quem lê, eu só posso invejá-los e consumí-los. Eu só sei escrever sobre mim e não sobre o mundo, esse mundo estranho e desconcertante, para ele, minhas rimas são vazias. E, às vezes, no meu coração brota uma inclinação para esse campo aberto que me arrebata; e passo minutos inteiros observando um cão que se coça, um casal que anda de mãos dadas mas não se fala, nem se olha, uma mosca grudada na janela do ônibus... Depois passa, me afundo na minha mente e seus problemas mesquinhos. Mas, só, só naqueles minutos absortos que eu sinto: isto é viver, e eu estou viva. Mesmo que por acaso, mesmo que sem querer...

Último bilhete

Essa triste face no espelho? Nunca mais. Esse discurso desencontrado, essas palavras sem sentido? Poupe sua retórica pouco desenvolvida. Desapareça. Lembranças do que já foi, do que poderia ter sido, para o futuro e para a família? Esqueça. Atravesse a rua, finja que não me conhece. Eu vou deixar esse ser de esperanças bobas e fantasias histriônicas pelo fim das desculpas, dos motivos rancorosos. Deixar tudo isso pelos cabelos ao vento e uma mala na mão. Minha porta está fechada e por favor, por tudo que eu já fiz, não me procure mais. Porque não estou à sua procura e de mim não haverá mais notícias. Não mais, não para você. Se me ligar, não deixe recados. Se me enviar cartas, voltarão para o remetente. Deixe-me, de uma vez por todas. Um adeus sem abraços para você, solidão.